Crise epistêmica nas Ciências Sociais.
Resumo: A função crítica da sociologia na construção de um mundo menos hostil e drástico. A principal função da sociologia é proporcionar uma leitura do mundo social para que o indivíduo possa compreender que vivemos numa teia de relações sociais, jogos de poder impregnados por elementos simbólicos. A Sociologia é a ciência que estuda a sociedade e os fenômenos que nela ocorrem, sejam eles culturais, econômicos, religiosos. Ela se ocupa basicamente de cinco elementos: a estrutura social, os grupos sociais, a família, as classes sociais e os papéis que o indivíduo ocupa em sociedade.
Palavras-chave: Sociologia. Sociedade. Indivíduo. Relações Sociais. Paradoxos sociais. Ciências Sociais.
Questiona-se firmemente se é verdade a existência de tal crise, o que nos leva as mais variadas explicações, jamais esgotando a temática. O oceano profundo da crise epistêmica possui impacto social e, exerce função social, com repercussões na ciência, refletindo o emaranhado das configurações sociais e a dinâmica contemporânea.
Em verdade, a sociologia ampliou muito seu campo de estudos e desde suas origens, vem se ramificando por diversas áreas do conhecimento humano. Desde Auguste Comte e, depois com Durkheim, Weber e Marx criou-se a sociologia e apresentaram modelos de pensamento tais como o positivismo, o funcionalismo e o materialismo o que já permite reverenciar o progresso do pensamento social.
Houve um período quando se começou a realizar crítica dos fundamentos e os pressupostos básicos da sociologia e pelo fato de existir diversas abordagens pois as multiplicidades de teorias não compreendiam a sociedade cada vez mais complexo. Destaca-se Octavio Ianni que em seu ensaio intitulado A crise dos paradigmas na sociologia – problemas de explicação (1989), nos fornece visão da diversidade mosaica e a preocupação entre os cientistas sociais.
Enfim diante da miríade de escolas de pensamento, já se cogita na obsolescência dos modelos clássicos que já não mais correspondem a realidade contemporânea, pois hoje se tem a abordagem histórica, globalizante, holística, sistêmica e estrutural. Além de neofuncionalista, fenomenológica, etnometodológica, hermenêutica, individualismo metodológico e, tantas outras tendências.
Conclui-se que o objeto da sociologia seguindo tais vertentes deveria ser o indivíduo, a identidade, a diferença, o cotidiano e a escolha nacional (vide Ianni, 1989). O referido doutrinador citou diversos outros doutrinadores que propuseram novas perspectivas tais como a de Bourricaud (1975) e Touraine (1984) que tem a proposta de substituir os modelos clássicos universalizantes de grandes estruturas1 ou macrossociais em prol do indivíduo, já tais concepções mui abrangentes foram superadas por conta das peculiaridades do século em que vivemos.
Pretendeu-se eleger como objeto da sociologia a ação social, o ato social, o movimento social e abandonar o sistema, os grandes conjuntos, os grandes conceitos, a visão macro da sociedade. Mesmo por que essas noções corresponderiam a uma realidade social passada e superada que não mais se constitui como objeto da sociologia.
Segundo Pierre Bourdieu que representou o pensamento de que os novos paradigmas não excluem os antigos, já que estes, foram os que deram origem aos atuais, e, na mesma dicção foi Habermas em sua Teoria da Ação Comunicativa que propõe novos parâmetros de categorias de análise para a Era das informações.
A crítica que aponta para novos modelos, teoria ou paradigmas é frequente insistir na ideia de o objeto da sociologia mudou. E, as ponderações e estudos anteriores não atendem o século XX e XXI. Criticou-se as noções de capitalismo e industrialismo que seriam importantes nas sociologias de Marx e Weber2, Giddens3 sublinham a informação, o poder administrativo, o poder militar, a guerra, a racionalização e outros como aspectos básicos da modernidade do século XX.
Diante tantas abordagens e tantas respostas aos problemas teóricas e conceituais. Há os que reconhecem piamente a criação de novos paradigmas não implica a desqualificação dos outros. Na história do pensamento sociológico, ao lado das oposições e rupturas, registram-se também convergências e continuidades. Discute-se problemas referentes ao método como ao objeto da sociologia.
Debate-se sobre as prioridades, quanto à indução quantitativa e qualitativa à análise sincrônica e diacrônica, ao contraponto das partes com o todo, à dinâmica e à estabilidade sociais, ao indivíduo e sociedade, ao objetivo e subjetivo.
Gradativamente, formulam-se novas teorias sociológicas, tais como estruturalismos, neofuncinalismo, estrutural-funcionalismo, fenomenologia, etnometodologia, hermenêutica, sociologia da ação ou acionalismo, individualismo metodológico e outras. Formulam-se outros temas e outros métodos de explicação ou compreensão, ao mesmo tempo em que se inaugurara outras linguagens.
Boaventura Santos é um deles que afirma “a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla e variada do que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera importante” (SANTOS, 2006). Para dar conta da experiência que não é “capturada pela tradição ocidental” é necessário propor uma modelo de racionalidade em oposição ao modelo de racionalidade vigente nos últimos séculos.
Para fundar essa razão, que Santos denomina de razão cosmopolita, ele nos remete a três procedimentos sociológicos: a sociologia das ausências, da emergência e o trabalho de tradução.
Os três pontos de partida são: a compreensão do mundo ultrapassa a compreensão ocidental do mundo; essa compreensão está ligada às concepções de tempo e da temporalidade; a concepção ocidental da racionalidade se caracteriza por contrair o presente transformado num instante fugidio e expandindo o futuro indefinidamente.
Nesse sentido, Santos vai na contramão, expandindo o presente e contraindo o futuro para que seja possível “criar o espaço-tempo necessário para conhecer e valorizar a inesgotável experiência social que está em curso no mundo de hoje”.
Para expandir o presente, ele propõe uma sociologia das ausências; para contrair o futuro, uma sociologia das emergências e para se dar conta da diversidade das experiências sociais, que não pode ser explicada por uma teoria global, propõe um trabalho de tradução, “procedimento capaz de criar uma inteligibilidade mútua entre experiências possíveis e disponíveis sem destruir a sua identidade”.
A sociologia das ausências4 tem como intuito resgatar as experiências consideradas inexistentes, dar a estas, torná-las fatos, como uma possibilidade de conhecimento e, colocá-las ao lado das experiências tidas como únicas e hegemônicas. E, assim, realiza-se a expansão da realidade, majorando o campo das experiências com credibilidade, resultando na dilatação do presente e, construção do futuro, expandindo assim que é considerado contemporâneo.
Diante da sociologia das emergências5 tem-se a investigação das alternativas que cabem no horizonte das possibilidades concretas. E, o expandido presente junta-se ao real existente, e o que dele foi subtraído pelas lógicas dominantes, a sociologia amplia o presente juntando ao real amplo repleto de possibilidades e expectativas futuras. Há a ampliação simbólica dos saberes, das práticas e dos agentes de forma a identificar nestes as ideias prospectivas.
Mas, a tradução do procedimento visa criar a inteligibilidade, coerência e articulação às experiências do mundo e, tanto as disponíveis quanto as possíveis, são reveladas pelas sociologias das ausências e das emergências, um mundo enriquecido pela multiplicidade e diversidade. E, assim, faz um movimento de ligação entre o presente e o futuro onde as teorias sociológicas estão ligadas a um objetivo comum tem como pretensão alcançar, o que acaba na maioria das vezes fazendo com que o futuro acabe por si só dissolvendo as transformações presentes.
Pierre Bourdieu6, a seu turno, afirmou que as contradições decorrentes da existência de várias escolas, com perspectivas e métodos diferentes, são falsas oposições, as quais têm um intuito social, mas não um fim científico. Exemplificou assim, com as oposições entre os teóricos e empíricos, ou seja, subjetivista e objetivista, ou ainda, entre os estruturalistas, que trata as relações objetivas, independente das consciências e vontades individuais, ele afirmou que todas essas oposições me parecem completamente fictícias e, ao mesmo tempo, perigosas, porque conduzem a mutilações. (Bourdieu, 1987).
Seguindo a ciência nos revela tem grande ambição e as maneiras legítimas de praticá-la são extremamente diversas e que as razões das divisões ou oposições que a constituem tem como motivação e o fato de que os sociólogos pretendem impor como única maneira legítima de fazer sociologia a que lhes é mais acessível, isto é, são ideologias que justificam o poder de certas teorias dominarem sobre as outras, omitindo o aparecimento de conceituações emergentes.
Por este motivo, Bourdieu defendeu a sociologia das sociologias que seria uma crítica a própria sociologia, ou, sendo mais específico, aos próprios investigadores, tornando possível ver os limites dos ocupantes das outras posições a sua própria, com isso, percebe-se que na verdade, o antagonismo mascara a unidade da sociologia que está nesse espaço de posições possíveis cujo antagonismo, apreendido como tal, propõe a possibilidade sua própria superação.
As rupturas que vem ocorrendo constantemente, são avaliadas como comum às ciências sociais, e não como uma “crise” no sentido literal da palavra, onde está ocorrendo uma espécie de “cataclisma” Joana Brito de Lima (2013) nos dá uma pista e uma possível solução com um direcionamento filosófico, pois a hipótese da mesma, é que a sociologia trilha o mesmo caminho da filosofia.
Os caminhos ora percorridos mostram que a noção de crise é comum nos momentos de rupturas e consolidação de novos modelos de conhecimento. […] As mudanças epistemológicas devem oferecer um horizonte mais amplo através do qual a Sociologia pode repensar suas bases. Noutras palavras, a Sociologia herdou os males originados em sua fundação, devido ao objetivo de superar os métodos filosóficos (metafísica) a partir da Filosofia, sem, contudo, acompanhar as críticas que a própria Filosofia voltou contra si mesma. A crise implica ressignificação e nova interpretação das relações sociais.
Ou seja, a solução da controvérsia epistemológica da Sociologia pode ser encontrada justamente onde, inicialmente, sua procura era barrada: nas fundamentações filosóficas atuais e nas diversas perspectivas e interpretações não-consensuais.
Finalizando, e sem ousar pretender esgotar o assunto, uma possível transvaloração sociológica permite enfrentar as disputas por legitimação do conhecimento e desmascarar os pressupostos dos discursos que reivindicam objetividade e veracidade sobre as infinitas e fictícias criações humanas. […] “os diferentes referenciais de pesquisa existem simultaneamente e indicam as escolhas teóricas defendidas por doutrinador, gerando resultados que podem ser confrontados nas discussões científicas.”
Ianni justificou que alteração ocorrida ao longo do tempo, não foi na sociedade em si ou em sua essência, mas sim em parte dela. O objeto que Marx e Weber pesquisaram se alterou, mas continua tendo a sua essencialidade, o trabalho existe, as relações de poder e a distribuição econômica.
Portanto, os conceitos principais desses sociólogos7, ou melhor, os conceitos estruturantes de suas teorias são vigentes, no entanto deve se reformulados, pois do mesmo modo que a física, a biologia, conforme os anos foram incorporando pesquisas anteriores, a sociologia faria o mesmo, por que o objeto em essência continua, mas com ramificações fenomênicas à serem desvendadas:
[…] a sociedade burguesa, industrial, capitalista, moderna ou informática, modifica-se ao longo do tempo. Mas, guarda algumas características essenciais. É diferente e mesma. […] O mundo formado com a sociedade moderna, industrial, capitalista não é o mesmo nos séculos XIX e XX. Modificou-se substancialmente, está informatizado.
Os meios de comunicação, em sentido amplo, revolucionaram as condições de produção, distribuição, troca e consumo, em termos materiais e espirituais. As burocracias públicas e privadas ampliaram muito o seu raio de ação, influência, indução. Tudo mudou. Mas muita coisa subsiste, ainda que recriada, necessariamente recriada.
Essencialmente, a sociedade moderna, burguesa, informática baseia-se em alguns princípios que se reiteram ao longo da história. Nem a ciência nem a técnica, ou informática, alteraram a natureza essencial das relações, processos e estruturas de apropriação ou distribuição, de dominação ou poder (IANNI, 1989), grifo meu.
Norbert Elias8 em “Escritos & Ensaios – Estado, processo, opinião pública” (2006) ele diz que “A estrutura tradicional dos conceitos é insatisfatória para a sociologia. A relação entre dois processos humanos interconectados […] não cabe no esquema tradicional de relações causais” (ELIAS, 2006, p. 40). Uma outra metáfora que expressa bem o seu pensamento é “muitos fios emaranhados” ou como ele ressalta “O entrelaçamento das esferas é um problema complexo à necessidade de encontrar uma origem ou uma relação de causa e efeito nos turva a visão” e mais:
Também poderíamos pensar, por exemplo, que o desenvolvimento econômico desempenha o papel central, do qual deriva o restante. Mas acredito, como disse, que os fatos não corroboram esse modelo simples. A interação dos diferentes processos parciais é complexa e não tem ponto de partida. Não posso oferecer ao leitor, nem com toda a minha boa vontade, um novo processo fundamental que satisfaça a necessidade ideológica de se encontrar uma causa qualquer.
Teóricos citados acima, que tentaram desenvolver uma nova linha de pensamento que interfere na realidade e a interpreta, não apenas de um modo, isto é, do micro para o macro ou vice-versa, mas entendendo a realidade por um enfoque de múltiplas perspectivas e de uma realidade não simples, mas sim complexa, cheia de conotações, de viés que devem ser esclarecidos e não omitidos por uma perspectiva totalizante ou, até mesmos abafados por teorias generalizantes, tem-se o intuito não de fazer sinonímia com as teorias, compará-las ou reduzir os conceitos uns aos outros, mas sim, como diz Edgar Morin em “A necessidade de um Pensamento Complexo (2003)” […] não se trata de destruir as disciplinas, mas de integrá-las, de reuni-las umas às outras para que possamos sair de uma visão fragmentada, esta que faz com que permaneçam invisíveis muitos problemas” (MORIN9, 2003). Segundo o sociólogo, as disciplinas fragmentadas impedem uma contextualização para a qual deveriam convergir as ciências, e principalmente sobre a identidade humana.
Afirmou Morin “A inteligência parcelada, compartimentalizada, mecanicista, disjuntiva, reducionista, destrói a complexidade do mundo em fragmentos distintos, fraciona os problemas, separa o que está unido, unidimensionaliza o multidimensional” (MORIN, 2003).
Não se trata de encontrar o “real”, mas sim de compreender as especificidades da imersão do ser social em sua realidade que são múltiplas e interconectadas. O pensamento unilateral é parcial e tende atender certas intenções de quem o produz. Se distanciar da parcialidade e trabalhar com os fenômenos numa dinâmica que englobe todos os aspectos é o desafio da ciência contemporânea.
Em um ensaio de Almeida Filho intitulado “Transdisciplinaridade e o paradigma pós-disciplinar na saúde” (2005), o autor nos menciona diversos personagens da cena global que trabalham na perspectiva transdisciplinar, por exemplo Wiener, Von Bertallanfy, Prigogine, Thom, Boulding, Maturana, Simon, Atlan, Lorenz, Morin – propostas essas que têm sido unificadas com o nome de paradigma da complexidade.
O que agrupa tais propostas é a ideia da complexidade, que se trata da premissa de que a pesquisa científica deve respeitar a complexidade inerente aos processos da natureza, da história e da sociedade. Almeida Filho diz que “a organização convencional da ciência em disciplinas autônomas e estanques precisa ser superada por novas modalidades da práxis científica” (ALMEIDA, 2005).
O que ocorre no campo da interdisciplinaridade é problemático, pois ocorre uma inversão do proposto, ao invés de unir conhecimento e torná-lo sólido para identificação dos fenômenos e até mesmo à união do desunido (ciência), ela tem:
[…] nos levado a tratar a questão da interdisciplinaridade dentro de uma ótica fenomênica, abstrata e arbitrária. Aparece como sendo um recurso didático capaz de integrar, reunir as dimensões particulares dos diferentes campos científicos ou dos diferentes saberes numa totalidade harmônica. Não há, dentro deste prisma didatista nenhum problema em fazer-se, no dizer de Lefevre, sopa metodológica.
Trata-se de uma espécie de fetiche de conceitos que consiste em lhe atribuir um significado neles mesmos. O enfrentamento desse problema tem ficado, no mais das vezes, na busca de novas palavras como a de transdisciplinaridade ou nas dicotomias da pesquisa quantitativa e qualitativa, pesquisa participante, pesquisa-ação. A questão que queremos apontar aqui é que a mudança do prefixo “inter” pelo “trans” ou a falsa dicotomia quantidade/qualidade, não elide o problema do caráter opaco e alienador da realidade social que analisamos. (FRIGOTTO, 1995).
Esta nova concepção, tem uma intencionalidade e cumpre com uma função social: É preciso insistir que esta visão integracionista e neutra de conhecimento e de interdisciplinaridade – que é dominante entre nós – não é fortuita e tão pouco fruto do atraso do desenvolvimento científico.
É, pelo contrário – consciente ou inconscientemente – uma forma específica cultural, ideológica e científica de conceber a realidade, de representá-la e de agir concreto na história social. Kosik denomina essa forma de apreensão da realidade de metafísica da cultura, ou teoria dos fatores.
Vários aspectos do complexo social se transformam em categorias particulares e independentes; e momentos isolados da atividade social do homem – o direito, a moral, a política, a economia – transformam-se na mente humana em forças independentes que determinam a atividade do homem. Depois de cada aspecto do complexo social ter sido assim isolado e transformado em abstração, investiga-se a conexão recíproca entre os vários aspectos, por exemplo, o condicionamento do direito pelo fator econômico.
(…) A síntese operada com tais abstrações metafísicas é, portanto, exterior, e a conexão mútua entre os fatores abstratos relativos é apenas formal ou mecanicamente causal (KOSIK, K. 1978, apud FRIGOTTO, 1995).
Os sujeitos devem explicitar suas posições teóricas e não sublimá-las, o que pode de certo modo, ocasionar no ecletismo, exatamente pelo fato de não haver conflito aparentes, quando na verdade os mesmos existem e são necessários para o fomento, produção, incorporação e superação do conhecimento e até para o descarte de suposições sem fundamento:
Desenvolvemos uma cultura que escamoteia sistematicamente o conflito, e as crises, embora a sociedade viva em profundo conflito e crise. Dilui-se o conflito capital-trabalho mediante estratégias paternalistas. Minimiza-se a desigualdade social e a profunda discriminação racial. Faz-se a apologia ao consenso, à conciliação e à harmonia. […] No plano intelectual, que nos interessa, sobretudo, nesta discussão, esta matriz cultural se manifesta por uma postura de desenraizamento e de ecletismo. (FRIGOTTO, 1995).
Tal posição é latente no pensamento atual, autores como Sérgio Buarque de Holanda já percebia os seus ensejos, mas o percebia como sendo uma característica nacional:
A postura eclética é, ao mesmo tempo produto e reforço tanto do desenraizamento quanto da apologia à conciliação e à harmonia. Sérgio Buarque de Holanda10 observa a esse respeito ser frequente “entre os brasileiros que se presumem intelectuais, a facilidade com que se alimentam, ao mesmo tempo de doutrinas dos mais variados matizes e com que sustentam, simultaneamente as convicções mais díspares” (HOLANDA, S. B. 1936 apud FRIGOTTO, 1995).
Outros notaram: Um dos traços constantes do que será o sistema intelectual brasileiro: a sensação, ingênua ou fraudulenta, conforme o caso, que têm seus participantes de não pertencerem a nenhum grupo social, de estarem como soltos no espaço dos interesses sociais (COSTA, LIMA 1981 apud FRIGOTTO, 1995).
Ideias como estas, tendem a ter uma intencionalidade: Esses fortes traços culturais marcados pelo ecletismo se explicitam, de outra parte, pela crença de que a apreensão da verdade dos fatos sociais de forma imparcial resulta “de um mosaico montado a partir de inúmeros pensadores, o que além de nos livrar” dos perigos dos sistemas nos permitiria um enriquecimento indefinido aproveitando-se de cada sistema o melhor” (GOMES, R.1980 apud FRIGOTTO, 1995).
Autores no caso, como FRIGOTTO (1995) e TONET (2014) tem a posição de que a multiplicidade das teorias emergentes são na verdade, um reflexo da sociedade contemporânea e portanto cumprem com uma função ideológica:
Konder nos mostra que este caminho contraditório já era apontado por Gramsci há sessenta anos. “Na discussão científica, já que se supõe que o interesse seja a busca da verdade e o progresso da ciência, demonstra ser mais avançado aquele que adota o ponto de vista segundo o qual o adversário pode expressar uma exigência que deve ser incorporada, ainda que como um momento subordinado, à própria construção”.
Se esta é uma direção adequada, fica claro que a condição prévia para o trabalho interdisciplinar, tanto em nível de pesquisa como no trabalho pedagógico, é de que as concepções de realidade, conhecimento e os pressupostos e categorias de análise sejam criticamente explicitados.
O convívio democrático e plural necessário em qualquer espaço humano, sobremaneira desejável nas instituições de pesquisa e educacionais, não implica a junção artificial, burocrática e falsa de pesquisadores ou docentes que objetivamente se situam em concepções teóricas e, forçosamente ideológica e politicamente diversas. A diluição forçada do conflito e da diversidade não ajuda ao avanço do conhecimento e nem à prática democrática (FRIGOTTO, 1995).
A constante renovação do pensamento, compreendendo os determinantes históricos seriam necessários para começarmos ao menos assumir uma postura crítica:
A superação desses desafios, certamente implicam a capacidade de atuar dentro da dialética do velho e do novo, ou seja, da crítica à forma fragmentária de produção da vida humana em todas as suas dimensões e, especificamente na produção e socialização do conhecimento e na construção de novas relações sociais que rompam com a exclusão e alienação (FRIGOTTO, 1995).
Para Kosik, ao contrário, trata-se de uma forma própria de produção da realidade e de representação no plano do conhecimento na sociedade de classe. A cisão, exclusão e a fragmentação são partes constituintes no plano material e no plano do conhecimento desta forma de ralação social de produção da existência humana. […] O modo de pensar fragmentário, linear produz conhecimentos que transformados em ação traz inúmeros problemas concretos ao conjunto da humanidade (FRIGOTTO, 1995).
[…] a crise das ciências sociais é indissociável da crise da totalidade do mundo atual e que esta tem na economia, entendida como o conjunto das relações que os homens estabelecem entre si na produção, a sua matriz. Deste modo, a crise das ciências sociais, seria compreendida como a expressão, sob a forma específica da esfera da cientificidade, da crise global que abala o mundo de hoje. Este, a nosso ver, é o caminho mais adequado para compreender a situação em que se encontram as ciências sociais no momento atual (TONET, 2014).
A “crise epistemológica” tem diversas causas. O artigo se propôs demonstrar como tal fenômeno pode ser compreendido não só como uma instancia independente, mas sim como uma causa social, sendo de origem social, que afeta todos os setores da sociedade.
As relações sociais é a causa fundante de tal movimento, a burocratização, a técnica e o processo de racionalização histórica, produz diversas áreas intransigentes, onde os indivíduos compartimentados por setores, produz intensamente conhecimento em apenas uma linha de pensamento, havendo uma acúmulo e ausência de relação entre tais ciências:
Segundo a denominação de Weber, a racionalidade formal é constituída pela calculabilidade e predicabilidade dos sistemas jurídico e econômico. No campo das organizações, a racionalidade formal está presente em aparelhos como o contábil e o burocrático. Implica regras, hierarquias, especialização, treinamento (ROBERTO THIRY-CHERQUES, 2009).
Fortalecemos a criação linhas de pensamentos, que por um acúmulo de informações, se elevam a um status de ciência e não mais de técnica de investigação ou de dado informacional. Por esse ângulo, desenvolvemos teorias interpretativas sobre um único dado, tendo como corolário “epistemologias”.
Tais repercussões são processos naturais decorrentes do processo de industrialização, análogo que ocorre na linha montagem, com as segmentações, gerando o aumento da produtividade em menos tempo, e um menor valor a pagar. Isto nada mais é, do que se valer de uma causa psicológica (diminuição do pensamento múltiplo), a favor da alta produção, com os indivíduos em apenas uma única “esteira” de reflexão.
A produção é maior pelo fato do indivíduo cumprir com uma única atividade constantemente, e além disso tal intelectual é menos custoso, pois oposto seria, um sujeito com conhecimento abrangente, com maior tempo de estudo e portanto maior gasto.
Avançando criticamente a partir do conhecimento acumulado, Marx empreendeu a análise da sociedade burguesa, com o objetivo de descobrir a sua estrutura e a sua dinâmica. Esta análise, iniciada na segunda metade dos anos 1840, configura um longo processo de elaboração teórica, no curso de qual Marx foi progressivamente determinando o método adequado para o conhecimento veraz, verdadeiro, da realidade social (MANDEL,1968).
Significando, simplesmente, que o método de Marx não resulta de descobertas abruptas ou de intuições geniais – ao contrário, resulta de uma demorada investigação: de fato, é só depois de quase quinze anos das suas pesquisas iniciais que Marx formula com precisão os elementos centrais do seu método, formulação que aparece na “Introdução”, redigida em 1857, aos manuscritos que, publicados postumamente, foram intitulados Elementos fundamentais para a crítica da economia política […]
É nestas poucas páginas que se encontram sintetizadas as bases do método que viabilizou a análise contida na obra de Marx e a fundação de sua teoria social (NETTO, 2009).
Portanto, os primeiros quinze anos foram as pesquisas inicias, para daí fazer a tese que culminará no “O Capital”11, lembrando que a data de publicação do mesmo foi em 1867. São vinte e cinco anos de estudos incessantes, vale ressaltar que o que foi pesquisado por Marx, ninguém havia pesquisado, este é um detalhe importante, pois o tempo decorrido de estudo foi de um objeto desconhecido, ou seja, ele teve de criar o que denominamos de teoria social.
Conclui-se que tais “epistemologias” tem um intuito, uma função ideológica, cumpre com uma finalidade, mas é de origem social e não um independente-específico de um campo da academia, é um fenômeno global que atinge com maior força as ciências humanas por conta das suas especificidades, tendo impacto sociais comprometedores, pois torna-se difícil de localizar os determinantes de determinado objeto pelo fato da multiplicidade de teorias.
As relações produtivas capitalistas se estendem as todas as esferas das relações humanas, não ficando impune o campo do conhecimento, se nas ciências tecnológicas se desenvolvem aparatos em prol do capital, o mesmo ocorre nas humanas em gerais, sendo os paradigmas teóricos um reflexo da configuração social estabelecida, e portanto, uma ideologia de manutenção da sociedade vigente que ocorre em seu epicentro.
Doravante, prescruta-se alguns preciosos conceitos da sociologia, a saber:
Cidadania12 é um dos conceitos mais fundamentais quanto se trata de política. Diferente do simples habitante, que é apenas o sujeito parte da população de um país, o cidadão é aquele que é parte de uma comunidade política, ou seja, que possui direitos políticos, que tem capacidade de influenciar nos rumos do Estado.
Nesse sentido, no Brasil atual, uma criança é apenas uma habitante, mas não uma cidadã. Ela mora no Brasil, mas não tem nenhuma possibilidade de influenciar o Estado brasileiro, já que nem direito ao voto tem.
Vejamos o caso da palavra “cultura”. Em nosso dia a dia, usamos esse termo para classificar as diferentes atividades humanas em superiores ou inferiores. Assim, dizemos que certa pessoa tem muita cultura ou que tal gênero de música não é cultura.
Quando cogitamos sobre cultura em Sociologia não funciona assim. Do ponto de vista sociológico, cultura é o conjunto de todos os elementos da vida humana que não são naturais. É simples: se não é algo espontâneo, natural para o homem (como respirar ou se alimentar), então é cultural.
Dentre os elementos que compõem a cultura é necessário distinguir dois tipos: a cultura material e a cultura imaterial. A cultura material é composta por elementos culturais que são palpáveis, tais como objetos de decoração, móveis, templos, construções, vestes, etc.
Por sua vez, a cultura imaterial é composta por elementos culturais não palpáveis, tais como a língua, a fé religiosa, a dança folclórica, a música típica, etc.
A divisão da sociedade em camadas, a estratificação social, naturalmente leva a grupos sociais historicamente marginalizados, que ocupam uma posição de inferioridade social. Em Sociologia, esses grupos são chamados de minorias. Perceba-se, porém, que, nesse contexto, minoria não é um conceito quantitativo.
Não se trata de grupos sociais com poucas pessoas, mas sim de grupos sociais com menor status na sociedade. Nesse sentido, por exemplo, as mulheres são consideradas uma minoria13 na sociedade brasileira.
Em sociedades democráticas, especialmente naquelas marcadas por grande diversidade, é natural a formação de grupos sociais organizados que têm como objetivo pressionar o Estado para a realização de certas demandas específicas. Esses grupos são chamados de movimentos sociais.
Geralmente associados a minorias, movimentos sociais não devem ser confundidos com partidos. Estes entram na política oficial, participam de eleições, etc. Os movimentos sociais, por sua vez, são tão somente grupos de pressão, procurando fazer uma espécie de ponte entre as agendas de certas parcelas da sociedade e o poder público.
É o caso da noção de poder em Michel Foucault. Para ele, o poder não é apenas um aspecto da vida do homem, mas a base inevitável de todas as relações humanas. Todas as relações humanas são relações de poder, pois todas as relações humanas envolvem elementos de domínio e disputa.
Por isso, é tolice imaginar que o poder se concentra apenas em grandes instituições, como o Estado e a Igreja. Além disso, é necessário lembrar que, diante de qualquer exercício de poder, forma-se automaticamente um contrapoder, uma resistência.
O agir comunicativo segundo Habermas14
Nenhuma afirmação é mais comum do que a definição de que o homem é um ser racional. Mas o que isso significa efetivamente? Para o filósofo Jürgen Habermas, há duas formas básicas de racionalidade. De um lado, a racionalidade instrumental é aquela que consiste em calcular custos e benefícios.
É baseado nisso que chamamos uma pessoa econômica ou organizada de racional. Por outro lado, a racionalidade comunicativa, ou agir comunicativo, é aquele que consiste na capacidade de deliberar em conjunto com os outros, mediante a troca de argumentos e de razões.
Segundo Habermas, essa segunda forma de racionalidade tem sido excessivamente desvalorizada, quando, na verdade, ela é essencial tanto para a vida ética quanto para a sustentação da democracia.
A alienação15 para Karl Marx
O filósofo Karl Marx é conhecido, principalmente, como um dos maiores críticos do capitalismo. De fato, para o pensamento marxista, o sistema capitalista é um sistema de exploração, onde alguns poucos proprietários dos meios de produção se beneficiam injustamente do suor e do trabalho de uma multidão de proletários.
A condição na qual os trabalhadores são colocados pela exploração que sofrem é chamada por Marx de alienação. Ela consiste no fato de que o trabalhador não se identifica mais consigo mesmo, não se reconhece mais no fruto de seu trabalho. Resumindo, o seu trabalho é percebido acima de tudo como um peso, como um estorvo, como algo que não tem qualquer significado para além do salário recebido no fim do mês.
A modernidade líquida em Bauman
Segundo o autor Bauman16, a modernidade líquida é a própria contemporaneidade em que as relações se esvaem e se tornam cada vez menos concretas. A sociedade anterior vivia a modernidade sólida, ou seja, tinha seus papéis sociais bem estabelecidos, as relações de trabalho eram mais claras e as noções de consumo e agilidade não obtinham destaque.
A liquidez dos nossos tempos está basicamente nos relacionamentos interpessoais, que passaram a ter a mesma lógica do consumo – ou seja, quanto mais e mais rápido melhor. Por isso, o autor chama esse tipo de associação de conexão, pela facilidade de conectar e desconectar. De maneira resumida, a modernidade líquida é a forma de vida de nossa sociedade capitalista, que leva a volatilidade do consumo a todas as esferas sociais.
Referências
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1 A Teoria da Estruturação, apresentada por Anthony Giddens no livro A constituição da sociedade, é uma abordagem de caráter crítico. Ela tem como meta analisar as práticas sociais ordenadas no espaço e no tempo, buscando entender como se mantêm estáveis as relações sociais e a reprodução das práticas sociais. Para Giddens, a tarefa da sociologia consiste em “fornecer concepções da atividade social humana e do agente humano que possam ser colocadas a serviço do trabalho empírico. A principal preocupação da teoria social é idêntica à das ciências sociais em geral: a elucidação de processos concretos da vida social”.
2 Max Weber foi um dos principais responsáveis pela adoção de uma metodologia própria para as ciências sociais, uma metodologia que leva em conta o objeto particular das ciências sociais, as ações humanas. Talvez o conceito mais importante da teoria weberiana seja o de “ação social”, que, segundo o autor, deveria ser o principal objeto de estudo da Sociologia. Levando em consideração os conceitos das ações sociais, é possível dizer que Max Weber defendia que a partir do uso das ações sociais, os indivíduos poderiam modificar a sociedade, a política, as relações sociais e as organizações institucionais e governamentais. Weber também defendia a organização social racional e organizada.
3 A teoria da estruturação de Giddens (2003) permite-nos repensar o próprio lugar do sujeito na estrutura social, ao pôr o agente como elemento que anima a prática da estrutura também modificando, que nos leva a situar prática docente da sociologia como práxis do agente visando à transformação da estrutura.
4 Em outras palavras, a sociologia das ausências constitui-se em um procedimento investigativo que intenta demonstrar que aquilo que parece não existir teve essa invisibilidade ativamente produzida por relações sociais injustas e predatórias, ou seja, como uma alternativa não credível em relação ao que existe e é considerado como válido. O seu objetivo é transformar objetos não credíveis em credíveis e, com base nisso, transformar ausências em presenças. Existem, para o autor, formas específicas de produzir não-existências, que se corporificam em lógicas de pensamento e de práticas sociais. São cinco as lógicas de produção das não-existências (2002, 2004), que constituem monoculturas nas dimensões epistemológica, temporal, de classificação social, escalar e produtiva.
5 A sociologia das emergências consiste em substituir o vazio do futuro segundo o tempo linear (um vazio que tanto é tudo como é nada) por um futuro de possibilidades plurais e concretas, simultaneamente utópicas e realistas, que se vão construindo no presente através das atividades de cuidado. Por outro lado, a sociologia das emergências é obtida a partir de uma contração do futuro que significa pensar (e lutar) por possibilidades diversas daquelas propostas pela razão indolente, que pretende torná-lo escasso. Aliás, Santos (2002) assevera que somente “o possível permite revelar a totalidade inesgotável do mundo”. Aduz, ademais, que a categoria mais negligenciada pela razão indolente é a da “possibilidade”.
6 A grande contribuição da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu foi, sem dúvida, a de ter fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a noção moralmente carregada de mérito pessoal. Suas contribuições abrangem uma ampla gama de conceitos e teorias que continuam a moldar a compreensão das dinâmicas sociais e educacionais. Entre as principais contribuições de Bourdieu para a sociologia da educação, destacam-se os conceitos de capital cultural, habitus e campo. Bourdieu também é conhecido por sua teoria dos campos, que se concentra nas relações de poder e competição em áreas específicas da sociedade, como a arte, a ciência ou a política. Ele argumenta que cada campo tem suas próprias regras e estruturas de poder, que são construídas pelos atores dentro do campo.
7 Direitos humanos: Formulada pela primeira vez no contexto das guerras religiosas do século XVII, a noção de direitos humanos tornou-se um paradigma para a atuação do Estado moderna e é, inclusive, critério de correção do Enem. Dito de modo simples, acreditar em direitos humanos significa acreditar que todo ser humano, simplesmente pelo fato de ser uma pessoa, possui certos direitos, certas prerrogativas básicas que não lhe podem ser negadas de modo nenhum, independentemente de sua cor, raça, cultura, posição social, religião, visão de mundo, orientação sexual ou qualquer outra condição específica.
8O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) foi responsável pelo desenvolvimento de uma teoria social inovadora, que serviu para alargar o campo dos estudos sociológicos voltados à elucidação de processos sociais, ou seja, dos processos de interação humana no âmbito da sociedade. Norbert Elias foi um dos sociólogos mais importantes da contemporaneidade. Alemão, de Breslau (1897 – 1990) e de família judaica, precisou - quando Hitler se tornou chanceler da Alemanha - fugir e exilar-se na França em 1933, estabelecendo-se posteriormente na Inglaterra onde passou grande parte de sua vida. Infelizmente, seus trabalhos só tiveram reconhecimento muito tardiamente (apenas após a sua morte). As obras de Elias destacaram-se por tratar da relação entre poder, comportamento, emoção e educação, abarcando conhecimento sociológico, psicológico, antropológico e histórico. Suas principais obras são “O processo civilizador” e “A sociedade dos indivíduos”, onde ele define sua nova forma de compreender a relação entre os indivíduos e a sociedade.
9 Nesse sentido, ensinar a compreensão interpessoal é o quarto dos setes saberes defendidos por Morin. Ele refere-se a aprender a se enxergar como indivíduo, como espécie e como sociedade, sabendo que nossas ações impactam na vida de outras pessoas. “O indivíduo produz a sociedade que produz o indivíduo” (MORIN, 2015). Uma das abordagens que torna o pensamento complexo mais compreensível, é quando o autor fala sobre a complexidade relacionada à ação. Uma de suas abordagens é sobre a ação ser um desafio, e como consequência se torna uma estratégia.
10 A teoria histórica proposta por Sérgio Buarque tornou-se uma teoria sociológica da formação do povo brasileiro, com apontamentos sobre como a sociedade brasileira estabeleceu-se. A contribuição do “O Homem Cordial” na formação do Brasil é, para Sérgio Buarque de Holanda, uma das principais chaves interpretativas do Brasil. As décadas de 1920 e 1930 foram de intensa atividade intelectual e artística no Brasil.
11O capital é uma das obras essenciais da economia contemporânea, e o trabalho de Lafargue, ao sintetizar os principais tópicos desta obra tão extensa, é uma contribuição inestimável para aqueles que buscam melhor conhecer a ciência econômica. * SALÁRIO, PREÇO E LUCRO Salário, Preço e Lucro é uma obra de disputa teórica no seio do movimento operário internacional. Pela primeira vez Marx expõe os elementos essenciais para a construção da teoria da mais-valia. Escrita entre fins de maio e junho de 1865, para a reunião do Conselho Geral da Primeira Internacional, na qual buscava criticar as concepções equivocadas da corrente de delegados influenciados pelo socialismo utópico.
12Destacou-se que a sociologia em seus primórdios objetiva ser um instrumento social para as elites constituírem setores de inteligência dentro da sociedade brasileira, posteriormente a sociologia alia-se a concepção de cidadania e passa a ter papel fundamental na vida social brasileira. A Sociologia vê a cidadania como um resultado de conquistas sociais porque ela somente aconteceu a partir da mobilização da sociedade na luta política ou mesmo revolucionária por direitos.
13O termo “minoria” refere-se, na sociologia, a grupos sociais historicamente excluídos do processo de garantia dos direitos básicos por questões étnicas, de origem, por questões financeiras e por questões de gênero e sexualidade. As minorias sociais no Brasil são compostas por diversos grupos que incluem a população LGBTQIA+, indígenas, mulheres, negros, pessoas com deficiência (PCDs), pessoas de baixa renda e idosos. Há um certo consenso entre estudiosos sobre a dificuldade de definição do conceito de minorias. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) no livro As Categorias (1973).
14Para Habermas (2012), a ação comunicativa é fruto da interação que acontece entre sujeitos que se abrem à utilização da linguagem e ação permitindo o afloramento de novos entendimentos e conhecimentos, refutando a perspectiva de uma comunicação unilateral, na qual prevaleça o poder de um sobre outro.
15 A alienação em Marx é entendida como a relação contraditória do trabalhador com o produto de seu trabalho e a relação do trabalhador ao ato de produção, um processo de objetivação, tornando o homem estranho a si mesmo, aos outros homens e ao ambiente em que vive: “A apropriação surge como alienação, e a alienação como apropriação” (Marx, 2002). Ele não pertence à natureza, aos deuses, mas a alguém distinto do trabalhador, ou seja, ao capitalista. O trabalhador ao fabricar uma mercadoria, ele se torna uma, reduzindo-o em instrumento de riqueza de outros homens. O homem, ao produzir uma mercadoria, ele mesmo se torna uma mercadoria, reduzindo-o a uma coisa.
16Bauman afirma que vivemos em uma sociedade marcada pelo conflito ser versus ter. O homem passa a se expressar pelo que compra ou tem, elementos definidores de sua própria identidade. Um dos sintomas desse fenômeno seriam as redes sociais, nas quais os usuários montam perfis e se relacionam como se fossem "produtos".
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